CARTA ABERTA DO MÉDICO RICARDO SOARES DA COSTA EM NOME DO PROVEDOR LOURIVAL NUNES DA COSTA, DA PRESIDENTE DA REDE FEMININA DE COMBATE AO CÂNCER, TEREZA SOARES DA COSTA, DE DOM HENRIQUE SOARES DA COSTA E DE CLARA SOARES DA COSTA.
Meu irmão, tenho permanecido calado sobre todas essas acusações. Para quem não sabe, sou cirurgião urologista. Não entrei na Santa Casa como empregado, nem com cargo de chefia. Não houve nepotismo. Entrei como qualquer outro cirurgião, tendo passado pelo conselho médico, em reunião da urologia lavrada em ata. Quero tornar pública a posição da minha família e minha pedindo licença para publicar neste espaço uma carta que estou enviando a meus amigos e colegas médicos.
Amigos, não tenho por hábito escrever em redes sociais. Quem me conhece sabe o quanto sou reservado. Mas não posso me calar diante de tudo o que vem sacudindo o nosso hospital. Tenho mantido silêncio acerca de tudo o que vem acontecendo na Santa Casa de Misericórdia de Maceió. Meu silêncio se deveu, principalmente, ao fato de eu ser irmão de Adriano Soares e não querer que parecesse aos desinformados que estou tomando um posicionamento levado pelos laços de sangue. Mas é chegada a hora de uma tomada de posição clara diante dos fatos que estão sendo expostos. Meu posicionamento se deve a um compromisso com a instituição Santa Casa, da qual faço parte como médico desde 1997, quando voltei da minha residência médica, e de onde tive praticamente toda a minha formação acadêmica, tendo iniciado no centro cirúrgico do hospital e em suas enfermarias em 1988, quando o Provedor ainda era Sizenando Nabuco. Desde então, tive a oportunidade de aprender medicina de qualidade e realizada com ética com os principais nomes da medicina alagoana.
Não bastasse esse motivo, meu pai foi PROVEDOR (com maiúsculas) desta instituição centenária por 12 anos. Deixou uma marca de probidade, ética, caráter, respeito, não só no trato com os médicos, mas principalmente, com os funcionários do hospital. A Santa Casa é minha casa, como é de todos os médicos que lá trabalham.
Os fatos que vem sendo mostrados nos tem deixado a todos atônitos e perplexos. Principalmente porque os médicos da Santa Casa, nesses anos de gestão do atual provedor, tem sido colocados numa posição secundária dentro da instituição. Nos acostumamos a aceitar sem questionar, em parte por culpa nossa, em parte por uma política de medo que foi instaurada dentro do hospital. O conselho médico perdeu toda a importância e credibilidade sem que qualquer um de nós se manifestasse. Nos revoltamos quando foi feito o contrato com o estacionamento. As queixas eram muitas, as conversas em cantos de salas e corredores mostravam nossa indignação, mas não fomos capazes de levantar a voz, de protestar, de entender que temos uma importância muito grande dentro da engrenagem de qualquer hospital. E deixamos que tomassem todas as decisões por nós, sem uma palavra, muitas vezes por medo ou covardia.
Foi quando vieram as terceirizações. Vimos colegas sendo execrados, seviços sendo pulverizados, e nos calamos. Não pedimos qualquer explicação. Não estou aqui falando de lei federal, de estatuto, mas de coleguismo, de decência, de interesse pelo que é nosso, como médicos e como cidadãos. É natural que tenhamos medo, que não queiramos nos prejudicar no local onde trabalhamos, que não queiramos sofrer perseguições. Mas a Santa Casa é a nossa vida, nossa confirmação como médicos.
Agora estamos num momento decisivo e histórico. O momento de mostrarmos que somos uma força dentro da instituição, de demarcar nosso território e de, finalmente, poder dizer: na nossa casa ninguém faz o que quer! Precisamos resgatar o conselho médico, precisamos cobrar explicações sobre todas essas graves denúncias, que agora passam a um novo patamar diante das provas apresentadas.
A questão é: vamos tomar o nosso lugar nesse processo, participar das decisões do nosso hospital, ou vamos deixar mais uma vez que as tomem por nós? Vamos nos envolver ou, novamente, usar aquele jargão: “eu não gosto de me envolver em política”?
Na segunda-feira haverá a reunião dos irmãos mesários. Precisamos estar presentes para influir nos destinos da nossa instituição, a qual amamos e onde trabalhamos. É preciso que o provedor e toda a sua direção e os irmãos mesários percebam que o hospital é feito por médicos, enfermeiras e auxiliares, e todos os funcionários que não fazem parte da administração.
Em tempo, meus amigos. Gostaria de deixar bem claro aqui a posição da minha família, dos meus irmãos (Dom Henrique, Clara e Adriano) e minha, da minha mãe (Tereza), como cidadãos, e de meu pai (Prof. Lourival Nunes da Costa), como ex provedor da Santa Casa de Misericórdia de Maceió. Falo em nome deles, com autorização deles. Queremos os esclarecimentos dos fatos, queremos o afastamento do provedor, Dr. Humberto Gomes de Melo! Não apoiamos nem um dos atos denunciados, que são gravíssimos!
Um grande abraço,
Ricardo Soares da Costa.
Fonte: Facebook de Adriano Soares